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terça-feira, 24 de março de 2020

Wodaabe

Unidos venceremos a semente do mal! Lalala

Olá, como estão?
Espero que em casa, quietinhos, ou se não puderem ficar em casa, que estejam protegidos, lavando as mãos e blindados com The Walking Gel.

Higiene é fundamental!

O post de hoje é sobre mais um grupo que eu conheci lendo o site do Jimmy Nelson: os Wodaabe.
Wodaabe são um povo nômade, que vivem da criação de gado zebuíno e do comércio. Eles fazem parte do grupo étnico Fulani, Cicrani, Beltrani... A principal fonte de alimentação do grupo é leite, milho, chá, iogurte e carne ovina ou caprina.

:)

Os Wodaabe vivem no norte da África, principalmente nas regiões do Chade e Níger. Longe da costa e sem litoral, eles migram seguindo as chuvas, do sul para o norte. As migrações são realizadas a pé, com burrinho ou camelo.

Wodaabe migrando

Mulheres Wodaabe

As mulheres são comumente vistas carregando suas cabaceiras, que são passadas de geração para geração e são motivos de rivalidades e disputas para saber quem vai herdar o artefato da matriarca da família.

"Esta é minha, ok???"

Uma das características deles são as escarificações faciais e corporais. São feitas feridas na pele usando uma lâmina e aí inserem uma mistura de carvão com creme (manteiga) para que a cicatriz fique bem espessa e escura.

Escarificações faciais de uma jovem

Poderia ser apenas mais um grupo nômade como tantos outros que existem por aí se não fosse por uma peculiaridade que envolve casamento, troca de parceiros, islã, de férias com o ex na mata, MAS O QUE??? Não entendeu? Então vem cá que eu te explico!

"Atento no que vem por aí..."

A crença islâmica chegou na região em meados do séc. XVI e por ali ficou. Aí você pensa "islã, burca, sheik árabe, O Clone, Jade & Lucas..." - não! Esquece isso daê. A situação é mais diferente e peculiar porque as crenças pré-islâmicas ainda estão ali, misturadas, enraizadas, e com elas, seus rituais. É tipo aquela sua avó que vai todo Domingo à missa, toda Terça na reunião do centro espírita e às Sextas vai ao terreiro agradecer Xangô e Sábado de manhã pede a vizinha para benzer mal olhado... Sabem? Tipo isso...

Rapazes Wodaabe

Por um lado temos a discrição, a modéstia, a reserva, a paciência e a lealdade. Durante o dia, marido e mulher sequer podem andar de mãos dadas ou ficar de xamego na pracinha. Nossa que povo conservador! Calma, daqui a pouco tem reviravolta.
Entre os Wodaabe, quem aprende a se maquiar, a se pintar, a fazer adornos, etc, são os homens! Nossa, como assim, ué! Nera conservador???

"Peraê que tá faltando o delineador!"

Quando chegam as chuvas, trazendo fertilidade pra terra, eis que começa o Festival Gerewol!
Que isso?
É um festival onde os homens se pintam, cada cor tem uma simbologia, se arrumam, ficam bonitos, passam batom preto para realçar o dentes brancos, colocam penachos na cabeça, fazem umas danças (Yaake) e AS MULHERES ESCOLHEM QUEM ELAS QUEREM!

Yaake

"Terminando de amarrar minha fitinha aqui..."

E é aí vem o plot twist, meus amigos: mulher casada também pode! Maridão está deixando a desejar? Não lava a poha do copo que bebe suco? Só fica vendo Domingão do Faustão? É hora de trocá-lo por um modelo melhor!
Brincadeiras à parte, os homens ficam lá, mostrando suas habilidades e suas qualidades (altura, olhos, dentes brancos) e a mulher escolhe o que mais lhe agradar e o leva para a mata. O que vai acontecer? O que eles decidirem. Pode ser um lance, um romance, e pode ser divórcio: ela larga o primeiro marido e escolhe um novo.

Juízas atentas

"Ai, olha aquele ali, gatinho, vô querê!"

"Hoje não, Faro!"

O que mais me surpreendeu é ver um povo nômade que segue o islã (mesmo tendo outras crenças enraizadas), com um ritual tão "moderno" aos olhos do ocidentais. Até o século passado, aqui mesmo em nosso país, mulheres divorciadas não eram sequer bem vistas. Enquanto eles, aparentemente aceitam essa troca de esposos com uma naturalidade muito maior, chegando surpreender até nós, ocidentais, ditos "mente aberta".

E seguem mais fotos para vocês apreciarem:





Lembrando que a grande maioria das fotos são do fotógrafo Jimmy Nelson.
Já usei fotos dele também no post dos Maori, dos Maasai e dos Tsaatan.

9 a cada 10 dentistas indicam o batom preto!

sexta-feira, 20 de março de 2020

Peste Negra

Olar!

Bom dia!
Ou seria boa tarde? Tanto faz, afinal o dia ainda não acabou!
Depois de exatos quatro anos sem postar, hora de atualizar esse blog!
O que a quarentena não faz, né non?

 Vocês, na quarentena...

Estamos enfrentando uma pandemia causada pelo COVID-19 e a coisa é muito grave. Então, se vocês puderem permanecer em vossas casinhas e evitarem aglomerações, a Organização Mundial da Saúde agradece!

Mas o post de hoje não é sobre o Coronavírus. Vamos deixar para falar dele quando todos estiverem bem e curados, até porque, a informação muda muito rápido e não tem como falar de tudo em uma única postagem do blog.

Coronavirus

Porém vamos falar de outra pandemia, que muitos sabem o nome, já ouviram falar, mas nem todos sabem detalhes: a peste negra.

Peste Negra foi uma pandemia que se alastrou pela Eurásia na Idade Média, tendo seu auge no séc. XIV. Os primeiros relatos ocorreram na Ásia Central e acredita-se que a doença foi caminhando pela Rota da Seda (não, não é o site da deepweb, ok?).

Não é essa!

A doença é causada pela bactéria Yersinia pestis e transmitida por uma pulguinha (X. cheopis). E a pulga vivia onde? No rato. O rato mesmo, rato comum, rato de verdade, do latim estrategi Rattus rattus... Foquem nisso porque eu acho quando confundem rato com ratazana e com camundonguinho.

A bactéria...

...a pulga...

...e o rato

Mas nem tudo é culpa do rato. Ué? Não? Não. Acredita-se que, por volta do séc. XIII, Genghis Khan e seus 309523085920 milhões de herdeiros ajudaram a espalhar a peste pela Eurásia, porque um dia ele acordou e decidiu que conquistar dois continentes seria uma ótima ideia. Não, não foi. Saindo da Mongólia em direção ao leste Europeu, a horda de nômades mongóis passou por uma região endêmica de roedores infectados. Levando a doença não apenas para as pessoas da Europa, mas também para outros ratos!

Genghis Khan e sua turma

Gente, cês sabem que rato é um bicho muito amigável e oportunista. Se não sabiam, pois fiquem sabendo. Uma migalhinha ali, uma migalhinha aqui, o ser humano não era muito higiênico na Idade Média, aliás até hoje não é, rato passeava em você durante a noite e pimba: a pulga passa para o homem, que volta para o rato, e pula em outro homem, e fica nessa vidinha.

Mimindo limpinho e cheiroso... ao contrário de ~certas pessoas~

Voltando para a turma de Genghis Khan: os mongóis cercaram uma colônia genovesa na Crimeia. Depois de muito soco e flechada no zóio, começaram a perceber que algo de errado não estava certo. A peste começou a se espalhar tanto no lado dos mongóis quanto dos genoveses. "BORA FUGIR!" -  gritou o capitão. Eis que voltam os navios para a Europa levando seus tripulantes (e também os cadáveres) contaminados. Não precisa falar a merda que deu quando os navios atracaram na Itália, né?

Ah! E lembrando que no meio do caminho ainda passaram por Constantinopla, Messina, Marselha e aí, Gênova. Carai, que rolê tóxico!

Que rolêzão hein...

Quando se espalhou pela Itália, Boccaccio, poeta italiano, descreveu:

"Apareciam, no começo, tanto em homens como nas mulheres, ou na virilha ou nas axilas, algumas inchações. Algumas destas cresciam como maçãs, outras como um ovo; cresciam umas mais, outras menos; chamava-as o povo de bubões. Em seguida o aspecto da doença começou a alterar-se; começou a colocar manchas de cor negra ou lívidas nos enfermos."

Giovanni Boccaccio pensativo...

Por isso o nome de "peste bubônica" ou "peste negra". Apesar de lívido significar pálido, ninguém chamou de "peste branca". Por que? Joguei a dúvida e saí.

"O Triunfo da Morte" - Pieter Bruegel, o Velho

Depois de matar milhões e um pouco mais, a peste foi e voltou várias vezes até o séc. XVII. E ainda teve mais um surto no séc. XIX, porque alguns chineses resolveram caçar roedores infectados (marmotas) para vender a pele para os ocidentais confeccionarem casacos. O surto se espalhou principalmente pela China e Índia, e foi contido por intervenções sanitárias.

Casaco do que???

E para finalizar, a título de curiosidade, os médicos que cuidavam das pessoas doentes eram chamados de "médicos da peste", e muitos sequer haviam cursado uma faculdade de medicina. Eles usavam a icônica máscara da peste, em forma de bico de ave, onde colocavam ervas aromáticas e palhas, que "filtravam" o ar fétido do ambiente. Além da máscara, também usava um chapéu e levavam consigo um bastão para examinar os pacientes de longe e para chicoteá-los (mas só os que pediam, pois acreditavam que mereciam ser punidos, ok?).

Cês imagine isso batendo na porta da sua casa??? Cê loko...