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segunda-feira, 23 de novembro de 2020

Boto -Rosa

a a a a a a a a a - voz do golfinho boto

Olá, sedutores!
Olá, sedutoras!

O post de hoje é sobre ele, a lenda brasileira, o folclore amazonense, o crush da Amazônia, o pai de várias criancinhas: o BOTO ROSA!

"Olar"

Oh, parece um golfinho.
Sim, são primos.

Boto Rosa, cujo nome científico é Inia geoffrensis, é um tipo de golfinho fluvial, ou seja, de água doce. Ele é encontrado no Brasil (Rio Amazonas), Peru, Bolívia, Equador, Colômbia e Venezuela. Quase um cidadão cosmopolita, né non?

Rio Amazonas

O pigmento rosa é mais marcado em machos adultos (Ô Damares, corre aqui!). As fêmeas são mais claras, manchadas e os filhotinhos são cinzentos. O macho adulto, que veste rosa, chega a pesar 250kg.

Turminha não respeitando o isolamento social...

Sua alimentação é à base de peixes, tartarugas e caranguejos. Uma característica interessante é que suas nadadeiras dorsais são menores que as dos primos marinhos, o que facilita muito a locomoção em áreas com raízes, plantas aquáticas e florestas que se alagam durante a cheia do rio.

"Nuossa, deu uma onda, mamãe!!!"

Os botos costumam viver sozinhos. A galerinha só se entrosa durante a época de reprodução, fora isso, são bem discretos e solitários.

DISCRETAH

Mas e a lenda? EU QUERO BOATOS! MIM DÊ BOATOS!
Bom, vamos lá.

"Senta que lá vem história..."

Reza a lenda que em noites de festas, quando a população ribeirinha se junta para tocar um carimbó, um boi bumbá, bebidinhas rolando, decoração temática, vestido florido, sandália nos pés... EIS QUE SURGE um moreno, um rapaz bonito, charmoso, com terno branco (no calooor úmido do Amazonas, mas ok), chapéu de lado, meu namorado... ♫ (Se você não conhece essa música, acaba aqui a nossa amizade).

"Opa, olha a festinha grátis!!!"

SEDUSSAUM

Lembrando que o chapéu é para disfarçar o nariz enorme e para tapar a narina, que, neste caso, é localizada no topo da cabeça (aquele "buraco" que a baleia solta esguicho quando vem à superfície).

"Oi, sumida!"

E aí?
Aí o rapaz chega para a moça bonita, joga um chamego, e convida a donzela para dar uma volta na beira do rio, ver o luar, aquelas coisas românticas que a quarentena não permite hoje em dia... E, claro, a moça topa, porque é SUPER SEGURO ir para a beira do rio com um total desconhecido.

Boto Rosa no chamego...

Chegando lá na beira do rio, o boto-boy-lixo seduz a mocinha, a engravida e, ao amanhecer, ele volta a ser boto e desaparece nas águas. A moça então, tem que criar o filho sozinha.

Boto se revelando...

Sim, toda moça solteira que engravidava, eles jogavam a culpa no boto e isso AINDA ocorre nessas regiões, porque um cetáceo engravidar uma humana é menos pior do que uma moça desonrada. Triste, principalmente porque nestas regiões ocorre muito casamento infantil e turismo sexual. :(

Momento sério do Blog

Falando em turismo, nessas regiões, muitos turistas cismam de nadar com os botos, óh azidéia, que têm um comportamento muito mais agressivo do que os golfinhos. Aí o gringo chega lá, tenta dar um beijo no botinho e toma cabeçada, narigada, quase morre afogado e vai para a internet reclamar que o Brasil é um país de selvagens.

Eu odeio isso, cara, o bicho estressa demais...

E, para finalizar, e fechar o post com humor, um flagra do boto saindo para conquistar a mulherada:
(vídeo disponível na versão para pc)

"Oi, casada!"

terça-feira, 25 de agosto de 2020

Squonk

"Oi... Quer tomar sorvete?"

Bom dia, chorões!
Bom dia, choronas!
Bom dia, choronxs, para quem não se identifica com nenhum gênero!
O post de hoje é sobre uma criatura do folclore estadunidense: o Squonk.

"Tô tisti..."

Ain, que issu?
Squonk
é uma criatura que, segundo a lenda, habita as florestas de coníferas no norte da Pensilvânia. Coníferas: árvores de Natal, ok?

Ali óh! Perto de NIL IORQUI!

Os relatos surgiram no final do século XIX, quando a região estava no auge da exploração madeireira. Muita gente transitando na floresta, tomando uma breja, álcool no sangue, delírios, sabem como é...
A primeira história escrita vem de um livro do autor William T. Cox, chamado "Temíveis Criaturas dos Bosques Madeireiros, com algumas Bestas dos Desertos e das Montanhas" (tradução livre e ao pé da letra).

O tal livro

Os relatos descrevem o Squonk como uma criatura muito feia, deformada, com uma pele coberta por verrugas e asquerosa. Por vergonha da aparência, a criatura vive escondida e passa boa parte do tempo chorando. Quando se sente ameaçada, ela se dissolve nas próprias lágrimas. E você aí, achando que era o rei do drama, hein?

Tão sentimental quanto um canceriano...

O Squonk gosta de viajar ao entardecer, quando o Sol se põe. Sua trajetória é mais lenta em noites de Lua cheia, pois precisa se esconder da claridade do luar, para que ninguém veja sua aparência.

"Se eu for ligeiro, ninguém verá que não penteei os cabelos..."

Há boatos de que a aparência do Squonk nunca mudou desde os primeiros relatos. O que é estranho, pois as imagens variam entre si numa busca no tio Google.

Vejam bem...

Caçadores e lenhadores da região alegam já ter tentado capturá-la, seguindo o rastro de lágrimas, mas ela sempre escapava, dissolvida nas poças lacrimais. Um homem chamado J.T. Wentling relatou ter conseguido colocar um Squonk na bolsa, mas no meio do caminho para casa, percebeu que a bolsa ficou mais leve... e molhada. A criatura escafedeu-se, não sem antes chorar muito, encharcando a mochila.

Parece verídico...

A criatura possui até nome "científico": Lacrimacorpus dissolvens que significa "corpo que dissolve em lágrimas". Poético.

Com florzinha tudo fica mais bonitinho!

A título de curiosidade, algumas substâncias químicas instáveis desaparecem/dissipam/somem/puf se tentarmos isolá-las. Elas foram batizadas de squonks químicos, em homenagem à criatura. :)

No final, ele só queria um amigo... Que dó... Choraste?

terça-feira, 4 de agosto de 2020

Anpu

"Chega mais!"

Olá, oi, tudo bom?
Hoje vamos falar de Deus.
Tá, mas qual deles?
Vamos falar dele, o Deus dos Mortos, o cabeça de Chacal, o todo musculoso poderoso Anpu!

"Olar..."

Uai, mas esse não é Anúbis?
Sim, meus caros leitores. Anpu e Anúbis são a mesma pessoa, digo, Deus.
Anúbis é o nome grego do deus egípcio dos mortos e moribundos. No Antigo Egito, seu nome era Anpu, Anupo ou Inpu.

Eu não sei qual era a dieta desses deuses, é tanto músculo, né non?

Anpu é conhecido por guiar a alma dos mortos ao submundo, associado à vida após a morte, à mumificação e é o protetor das pirâmides. Alô Ministério do Trabalho, olha o acúmulo de função! Tudo que é ligado à morte (doença, funeral, enterro, mumificação, assombração) está conectado a ele.

"Pega ladrããão!!!"

Apesar de ser sempre representado com a cabeça de um chacal, alguns egiptólogos alegam que não dá para ter certeza se é um chacal mesmo, afinal, "ninguém tava lá pra ver". Brinks. Segundo eles, não há certeza se são chacais ou cães, mas um fato interessante é que nas cidades que cultuavam Anpu, foram encontrados um grande número de cemitérios e múmias de cães.

"Essa pirâmide é minha. Rela nela procê ver o que te acontece!"

Segundo a mitologia, quando uma pessoa morre, seu coração é pesado na balança de Anpu. O peso é então comparado com a Pena da Verdade. Se for mais pesado, ou seja gente ruim, o defunto é então devorado pela Deusa/Demônio Ammit. Se for mais leve, bondoso, a alma segue num barco pelo Rio Nilo, guiado por Anpu, até encontrarem Osíris, o deus do submundo.

 "Hmmm... deu uma leve inclinadinha, hein?"

"Toca aqui, bro! Bora ver Osíris!"

Anúbis em "American Gods"

 Ammit - corpo de leão e cabeça de cocodrilha

 "Pode passar a mão, ele é bonzinho!"

Coração de político...

No mito Ísis e Osíris, Anpu tem um importante papel. Após ter o corpo despedaçado pelo irmão Set, Osíris foi reconstituído por sua esposa (Ísis) e embalsamado por Anpu, tornando-se a primeira múmia. Permitiu-se então a concepção póstuma de um filho: o Deus Hórus, que depois busca vingança, dando uma surra no tio Set (na verdade ele matou mesmo). Ah, mas Hórus num é filho de Rá? Gente, vamos fazer uma analogia cristã: Jesus é filho de José ou do Deus cristão? Então, façam de conta que Osíris é um José com poderes divinos e o Deus cristão é Rá. Entenderam? Se preferirem, peçam exame de DNA, ok?

"Começando os trabalhos, força, foco e fé!"

Na árvore genealógica, a história mais aceita é que Anpu seja filho de Néftis com Osíris. Na verdade ela era casada com Set, aí eles tiveram uma briga e Néftis tomou a forma de Ísis e foi lá jogar um chamego em Osíris. Quem nunca?

Anpu é casado com a Deusa Anput e tem uma filhinha, a Deusa Kebechet (Qeb-a hwt).

 Eu amo essas imagens que retratam deuses como se eles fossem fofinhos, sendo que eles mandariam raios na tua cara na primeira oportunidade... XD

Kebechet... Essa menina foi trocada no hospital?

Para finalizar, durante as visitas do Império Romano no Egito, no meio do caminho passaram pela Grécia e levaram a história do Deus Hermes (Mercúrio dos romanos) e acharam que seria um ótima ideia unir seu mito com o de Anúbis e criaram o HERMANÚBIS! XD

O que acontece se a gente unir o corpo de Hermes com o vira-lata caramelo???

quarta-feira, 8 de julho de 2020

Festival do Ma'Nene

Vocês, esperando eu atualizar o blog...

Oi oi oi!
Não vou pedir desculpas pela demora para postar, pois vocês já estão acostumados.
Então bora para o assunto de hoje, porque o bagulho é loko.

"Você falou ~bagulho~?"

O tema de hoje envolve misticismo, funeral, danças, dinheiro, búfalo e um pouco de fake news.
Vamos falar do Festival do Ma'Nene.
Nossa, como assim? Que isso?
Segure minha mão e venha comigo até a Indonésia, mais precisamente na ilha de Sulawesi, na região de Tana Toraja.

Ali óh!

Primeiro vamos começar explicando como os Torajans encaram a morte: para eles, a morte não é um evento súbito e abrupto. Tipo pá pum! Não. Para eles, a morte é um processo gradual, um caminho a percorrer em direção à Puya, a Terra das Almas, a versão deles para o Paraíso.

Uma vilazinha tradicional em Toraja

Ah tá, mas e aí?
E aí que uma pessoa morreu. Ok. Esta pessoa não é velada e enterrada logo de cara igual ocorre nos enterros no Brasil. Seu corpo é embalsamado, enrolado em vários tecidos e guardado num caixão bonito, colorido. Então ele é levado para o Tongkonan, ou Casa da Morte, onde os cadáveres ficam ali aguardando o funeral. Quanto tempo de espera? Depende. Do que? DE GRANA!


Caixões ornamentados...

Tongkonan

Os funerais dos Torajans são extravagantes e, como tudo que é extravagante, custam dinheiro. A família então vai juntando um dinheirinho para pagar pela cerimônia. E todos os dias / semanas / meses do período necessário para juntar a bufunfa, eles cuidam do cadáver como se este estivesse doente (o chamam de Toma Kula), e não simplesmente morto. Os familiares e amigos oferecem água, alimentos, cigarros...

Três maços de Derby

Que isso, sério?
Sim, e eles acreditam que enquanto o funeral não ocorre, a alma da pessoa fica ao redor da aldeia, passeando, dando um rolê... Por isso tem que tratar super bem, para não serem assombrados.

Cuidam deles como se estivem apenas doentes...

Beleza. Dinheirinho já está ok, e aí?
Aí começa o ritual.
Búfalos (custeados pela família) são trazidos para o sacrifício. Amigos costumam doar alguns animais em sinal de respeito também. E a família do falecido, no próximo ano, tem que ofertar outro búfalo caso algum ente do amigo venha a falecer também. É o famoso uma mão lava a outra.

"Agora você me diga: o que é que EU tenho a ver com isso tudo?"

Não há um número exato de quantos animais precisam ser ofertados, mas 24 é o número sugerido pelas crenças ancestrais.
O último suspiro do último búfalo sacrificado marca a morte oficial da pessoa e sua alma finalmente pode subir aos céus.

Chifres empilhados

Rola música, danças, um grande banquete é servido para os presentes.
Nada de chororô, véu preto ou óculos escuros.

Este não é o look ideal para um funeral Torajan...
Mas pro Brasil está chiquérrimo...

E então o caixão é levado para o enterro, que pode ter três destinos: caverna, túmulo de pedra ou pendurados num penhasco. Caixões de bebês e criancinhas costumam ser pendurados em árvores.

 Cavernas com ossadas já em estágio avançado

Caixões e ossadas em penhasco

Árvores com pequenos caixões

Os ricos criam verdadeiros mausoléus, com direito a estátuas deles próprios enfeitando os túmulos de pedras, chamados de Tau Taus.

Tau Taus dos ricos

Tau Taus mais humildes

E aí, agora sim, vamos ao que interessa: o Festival do Ma'Nene.
Mas até agora você não tinha falado dele?
Não, eu estava introduzindo vocês no contexto. XD


"Bora pro Festival, Wenceslau!"

Todos os anos, em Agosto, olha só, tá chegando, ocorre o Festival do Ma'Nene, que é a cerimônia de limpeza dos cadáveres. Eles são retirados de seus mausoléus, os caixões são abertos e suas roupas velhas são cortadas. Seus corpos são lavados e limpos e deixados ao sol para secar. Roupas novas são colocadas nos cadáveres e então são levados para um desfile pela vila. Tem foto, tem selfie, tem abraço, tem doação de dinheiro (sim, enterram dinheiro com a pessoa), trocam os óculos, se precisar... Enfim, é um Esquadrão da Moda lúgubre.

 Um trato no hair...

 Limpeza facial...

 Foto com a family...

Roupinha nova, oclinhos novo, e um pente, caso precisar...

Aí vem uma curiosidade: os Torajans são cristãos protestantes, mas a cultura ancestral é tão forte, que nem os colonizadores conseguiram mudar os costumes.

Fê, mas e as fake news?
Ah, então... Há alguns anos, fotos do Festival do Ma'Nene eram usadas na net para espalhar boatos sobre zumbis que acordaram dos túmulos por feiticeiros voodoos... GENTE, CÊS VIAJAM DEMAIS!
Outros boatos diziam ser uma senhora de mais de 120 anos...
A foto:

Zumbi, voodoo, Haiti, pessoa mais velha do mundo... É cada coisa...